domingo, 17 de maio de 2009

Chove ( 1997)

Chove !
E nas gotas de chuva a cair
Cintilam sonhos , quimeras,
Fadas, duendes e feras,
Armas que matam sem ferir.
Chuva, gotas de pranto,
Tristeza deste meu Ser
Às vezes choro sem querer
Quando todos julgam que canto.

sábado, 9 de maio de 2009

Vento quente do Sul
.
.
.
.

Onde está a voz que chega
com o vento quente do Sul,
trazendo no eco
a vaga tranquila do rio,
o rumor do mar
batendo na rocha
e nos olhos a cor da planície
onde cavalos alados
voam correndo?
Olho em meu redor
e tudo me fala do nome,
do olhar,
do corpo que não conheço e amo,
como se ama Deus
e o Sol e o Ar
e todas as outras
coisas intocáveis
que, sem as vermos,
nos fazem viver
e sentir.
Quando virão
as mãos tocar-me na pele,
no rosto,
nos cabelos,
na alma,
como já as palavras
me tocam na pele,
no rosto,
nos cabelos ,
na alma?
Os dias passam
e o tempo
e os pássaros voam
e cantam
debicando
o fruto das cerejeiras.
Doce é o sabor do tempo das cerejas.
Os dias passam
e eu passo
contando o tempo
que quisera breve,
como os versos
ligeiros
deste meu canto.
Quão triste é o tempo da espera
e nostálgico o momento
das marés nocturnas,
ternos idílios
trazidos pela mão
de invisíveis
marinheiros de outras viagens.
Onde está a ponte
que conduz à outra margem do rio?
Procuro na estrada
um caminho mais fácil
e apenas vejo
as escarpas
e os montes
e esse ponto distante,
que meus olhos não alcançam,
perde-se na memória viva do dia.
Alguém deterá
o segredo dos mapas
e das clépsidras
e me apontará
o caminho da Luz
através desse TEMPO
feito àgua
e ilha
e brisa
e espuma.
Alguém virá
tocar à minha porta
e trará no sorriso
as quatro estações,
a árvore dourada ,
o tronco despido,
as flores e os frutos.
Chega-me a voz
com o vento quente do Sul
trazendo no eco o Sonho,
a promessa ;
penetrante voz
que irriga meu sangue
e que vive em mim
e que respira em mim
e me ama
e me chama .
Quando virá o dia
em que a ponte
surgirá a meus pés ,
tapete rolante
para a outra margem?

sábado, 2 de maio de 2009

ROUBAR

Eu queria roubar ao Sol a sua Luz,
tirar à branca rosa o seu Perfume
extrair do mar a alva Espuma,
desprover o fogo de seu Lume.
.
Eu queria roubar às aves o seu Canto,
tirar ao vento a sua Força,
extrair do mel toda a Doçura,
desviar o rio do seu Leito.
.
Eu queria roubar ao tempo a Madrugada,
tirar a Gioconda o seu sorriso,
extrair do arco-íris todas as cores
desprover o jardim de suas flores.
.
E com estes bens roubados
constituiria um Tesouro,
mais rico que todo o Ouro
diamantes ou brocados.
.
Com ele faria grinaldas
de versos de Poesia,
Belas cartas perfumadas
para alegrar o teu Dia!
Verdes vermelhos

Um dia o destino
vestir-se-á
de verde.
Verde-mistura.

De rios e de ventos.
De abertos conventos.
De marés e pinhais.
Espigas nos trigais.

Outra noite o destino
vestir-se-á
de vermelho.
Vermelho - loucura.

De luzes e de velas.
De sóis e de estrelas.
De perfume e de pele.
Tanto tom de mel!

E duas bocas unidas
no mesmo sabor
selarão para sempre
a cor do Amor!

Musa

E foi então
que
a Mulher
se tornou
Poesia !

Dos seus seios
brotaram
rios de tinta
que
saciaram
o Mundo
de Beleza
e
de Sonho!

Pérolas e ouro

No Castelo-do-Sonho,
Senhora-Triste,
borda a fios de prata o Luar
tece a fios de ouro o seu Tesouro.

E as lágrimas que lhe saltam do olhar
são nacaradas pérolas, não são choro.

Chora Senhora-Triste, borda,tece,
seu Castelo-do-Sonho desvanece.

Belas cartas perfumadas
de delicada essência, um perfume,
brumas de desfeitas madrugadas,
fumo de um qualquer perdido lume...

Senhora-Triste afaga seu Tesouro
pérolas entrelaçadas a fios de ouro.
Cálidas marés

Viver ao sabor das marés.
Sonhar o brilho que da vela emana.
Agarrar o Sol que na areia se desenha.
Saborear a sós o que nos resta do Tempo.

Ah! Viver ao sabor das cálidas marés !
E deixarmo-nos morrer, como quem sonha,
Qual estrela cadente num universo Luz !