sábado, 3 de outubro de 2009

SEM TÍTULO


Os relógios pararam.

No silêncio dos quartos adormecidos,

voa a miragem de sonhos perdidos.

Quimeras em viagem que sempre planaram

muita acima do possível,

muito acima.

Sob as tábuas do chão, enterrei as letras

com que um dia escrevi o meu futuro,

as páginas rasuradas de tantos planos,

os lápis gastos com que desenhei os dias

e essa borracha cruel que mos apagou.

No silêncio dos quartos adormecidos, o silêncio.

O silêncio nos quartos adormecidos.

E é noite em mim,

é sempre noite

insana noite e... nada!

Sob as penas do colchão enterrei as penas.

(Escrito por aí, numa madrugada qualquer.)

sexta-feira, 11 de setembro de 2009

Condores

As palavras são condores,
ascendem lentamente nas encostas,
disfarçam-se por entre nuvens de branco e anil.

Poemas são instantes,
emergindo suavemente na memória,
iludindo-se nas entrelinhas dos sentires.

E eu não saberia escrever de outro modo.
Com a dor o silêncio se faria.
Sem amor o poema morreria.

domingo, 19 de julho de 2009

O mar. A onda. A gaivota.

Contigo sou de novo o mar e a onda
e ainda a gaivota sobrevoando a azenha.
Agora a paz dos dias
e o calor da tua mão presa na minha.
Há uma tepidez doce nas tuas mãos, sabias?
Como se trouxesses sempre contigo
o Sol dos instantes domingueiros.
Os outros, os amigos,
ficam no cais
presos aos copos de cerveja
e às conversas ligeiras.
Nada sabem das coisas que nos dizemos no silêncio,
porque há muito que esqueceram
as palavras do amor e do sentir.
Para os outros, os amigos,
o amor é um vocábulo gasto,
como velho alfarrábio esquecido numa caixa de cartão.
Nada sabem do que os nossos olhos vêem escrito na brisa,
nas nuvens, no céu estrelado, numa fase lunar.
Uma noite ficámos os dois na varanda envoltos em mantas
apenas para podermos ver melhor a chuva de estrelas
que sobre nós caía.
Os outros, os amigos, tombam de sono
enquanto esvaziam mais um copo
em noites já vazias de sonho
e as suas mulheres assistem ás novelas
e choram em silêncio
por já não saberem dizer "amo-te".

Mas eu poderei sempre dizer-te que te amo
e que serei eternamente o mar, a onda e ainda a gaivota sobrevoando a azenha.

terça-feira, 30 de junho de 2009

Intemporal

Hoje queria apenas falar das águas
da memória de um rio ondulante e quente
de palavras que aprendi de cor como toda a gente
de versos antigos feitos de risos e de mágoas.

Hoje queria apenas um poema verde
de um rio feito espelho à minha imagem
onde me visse inteira nessa miragem
onde ao mesmo tempo eu pudesse ver-te.

Intemporal o rio que aqui navego
infindável o túnel das minhas dores
meus sonhos são multicolores
e é sempre aos sonhos que me apego.

domingo, 17 de maio de 2009

Chove ( 1997)

Chove !
E nas gotas de chuva a cair
Cintilam sonhos , quimeras,
Fadas, duendes e feras,
Armas que matam sem ferir.
Chuva, gotas de pranto,
Tristeza deste meu Ser
Às vezes choro sem querer
Quando todos julgam que canto.

sábado, 9 de maio de 2009

Vento quente do Sul
.
.
.
.

Onde está a voz que chega
com o vento quente do Sul,
trazendo no eco
a vaga tranquila do rio,
o rumor do mar
batendo na rocha
e nos olhos a cor da planície
onde cavalos alados
voam correndo?
Olho em meu redor
e tudo me fala do nome,
do olhar,
do corpo que não conheço e amo,
como se ama Deus
e o Sol e o Ar
e todas as outras
coisas intocáveis
que, sem as vermos,
nos fazem viver
e sentir.
Quando virão
as mãos tocar-me na pele,
no rosto,
nos cabelos,
na alma,
como já as palavras
me tocam na pele,
no rosto,
nos cabelos ,
na alma?
Os dias passam
e o tempo
e os pássaros voam
e cantam
debicando
o fruto das cerejeiras.
Doce é o sabor do tempo das cerejas.
Os dias passam
e eu passo
contando o tempo
que quisera breve,
como os versos
ligeiros
deste meu canto.
Quão triste é o tempo da espera
e nostálgico o momento
das marés nocturnas,
ternos idílios
trazidos pela mão
de invisíveis
marinheiros de outras viagens.
Onde está a ponte
que conduz à outra margem do rio?
Procuro na estrada
um caminho mais fácil
e apenas vejo
as escarpas
e os montes
e esse ponto distante,
que meus olhos não alcançam,
perde-se na memória viva do dia.
Alguém deterá
o segredo dos mapas
e das clépsidras
e me apontará
o caminho da Luz
através desse TEMPO
feito àgua
e ilha
e brisa
e espuma.
Alguém virá
tocar à minha porta
e trará no sorriso
as quatro estações,
a árvore dourada ,
o tronco despido,
as flores e os frutos.
Chega-me a voz
com o vento quente do Sul
trazendo no eco o Sonho,
a promessa ;
penetrante voz
que irriga meu sangue
e que vive em mim
e que respira em mim
e me ama
e me chama .
Quando virá o dia
em que a ponte
surgirá a meus pés ,
tapete rolante
para a outra margem?

sábado, 2 de maio de 2009

ROUBAR

Eu queria roubar ao Sol a sua Luz,
tirar à branca rosa o seu Perfume
extrair do mar a alva Espuma,
desprover o fogo de seu Lume.
.
Eu queria roubar às aves o seu Canto,
tirar ao vento a sua Força,
extrair do mel toda a Doçura,
desviar o rio do seu Leito.
.
Eu queria roubar ao tempo a Madrugada,
tirar a Gioconda o seu sorriso,
extrair do arco-íris todas as cores
desprover o jardim de suas flores.
.
E com estes bens roubados
constituiria um Tesouro,
mais rico que todo o Ouro
diamantes ou brocados.
.
Com ele faria grinaldas
de versos de Poesia,
Belas cartas perfumadas
para alegrar o teu Dia!